Mulher de atitude

Certo dia entra na minha clínica esta mulher linda, loura, olhos castanhos claros, corpo esbelto, tipicamente brasileiro, a não ser por um detalhe, sua cintura não era milimetricamente desenhada a ponto de ser chamada popularmente de ‘violão’. Analisei seu corpo em menos de três segundos, pois devora-la com meus olhos não era meu trabalho. Ela sentou-se, me chamou de doutor e começou a lamentar-se de sua aparência, de como gostaria de ser linda e como os homens eram injustos com ela. Disse que procurou toda forma de regime, e comprava roupas todo mês em busca do ‘guarda-roupa perfeito’, mas que não sabia se isso era bom ou ruim, às vezes tinha vontade de abandonar toda idéia e viver em algum lugar calmo, com seu príncipe encantado, cujo ainda precisava encontrar, pois todos os homens eram canalhas que só queriam usá-la e abandona-la, por isso não lhes dava chance alguma, no primeiro encontro, durante o jantar era suficiente para que ele se despedisse ou lhe convidasse a seu apartamento com segundas intenções. Pensei se esta jovem mulher não sofria de síndrome-de-perfeição com certo complexo de realidade-infantil e também um pouco de síndrome-de-consumo, o que lhe acarretaria nessa sobrecarga de imagem a ser renovada a todo o momento e na perfeição dos acontecimentos. Nas próximas sessões comecei a perceber que a coisa ainda era pior do que pensava, ela estava pensando seriamente em fazer uma lipoaspiração, segundo afirmou, sentia que sua vida não andava bem, os homens não lhe davam atenção porque tinha os quadris um tanto largo para seu porte físico, estava desesperada e apesar de comprar todo tipo de calça que pudesse para disfarçar o ‘inconveniente’, ainda insistia no assunto, não apenas comigo, mas com todos a quem pudesse conversar por mais de dez minutos, nos quais oito eram dedicados a falar de seu peso e suas roupas. Foi quando percebi que não era seu corpo, suas roupas nem os homens com quem falava onde se encontrava o problema, e sim o problema era que ninguém agüentava as lamentações incessantes da jovem. Resolvi então tentar da maneira mais suave possível dizer que ela precisava relaxar um pouco sobre sua imagem, talvez tirar umas férias e ir a um lugar mais calmo, não se importar tanto e não discutir este assunto a todo o momento com todos, principalmente com os homens a quem ela tinha interesse. Ela muito indignada com minha atitude, levantou-se do sofá, pegou suas coisas, me pagou as consultas e disse que homens eram todos iguais, não sabiam escutar, apenas falar, reparar nas aparências femininas, falou em alto e bom tom ‘estou confortável com minha aparência, e se fizer uma lipo de maneira alguma é pra agradar algum homem’.
Conclui que ela não queria se tratar com um psicólogo, apenas pagava um homem que tinha à ‘obrigação’ de escutá-la por uma hora, na verdade tinha síndrome-de-atenção-masculina.
E qual mulher não tem?
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home